sábado, 6 de agosto de 2022

O Grande Cogumelo, por Mauricio de Oliveira Silva

"Texto referente ao dia em que os EUA com uma covardia imensa lançou duas bombas atômicas no Japão. Hoje dia 06-08-2022, 77 anos para não esquecermos."

Mauricio de Oliveira Silva
escritor/poeta/contista.


O GRANDE COGUMELO


Me chamo Fuyuki Fujimoto, tenho 87 anos, moro só em uma casa humilde, com características da cultura japonesa, nunca me aposentei, e tenho deficiências no andar. Para me sustentar cultivo cogumelos, vendendo em potes nas praças de São Paulo-Brasil.    

Tudo começou quando eu tinha onze anos, morava com meus pais e meus dois irmãos em Nagasaki no Japão. Certo dia estávamos nos campos de plantações, próximo a cidade. A 2º guerra mundial em seu auge mais profundo. Pequenos aviões passavam por cima de nós a toda hora. Mais o Clímax de tudo foi um grande borbadeiro americano B-29 onde apelidaram de Enola Gay, que passou com aquele som tenebroso de seus potentes motores. Em seguida observei um grande cogumelo se formando no horizonte. Meus pais mandaram todos correrem para um banker construído por ele, fiquei por último quase não chegando a entrar. Aquela radiação vinha a nosso encontro. Matando animais e seres-humanos que o encontrava pelo caminho. Quase no Banker, antes de entrar, senti minhas pernas e costas queimando, meus pais me puxaram rapidamente, más o estrago já estava feito. Minhas costas queimaram por completo, vindo aparecer a carne, e minhas pernas algumas queimaduras, já que usava uma calça jeans grossa. Ficamos meses por lá. Meus pais precavidos e desconfiando do pior da guerra, estocaram mantimentos, remédios e água por um bom tempo. No rádio não se informavam nada dos acontecimentos. E assim ficamos meses trancafiados devido a radiação que tomava conta do local. Até hoje muitas coisas me vem na cabeça, o bombardeiro passando sobre nós, os nomes das bombas jogadas nas duas cidades ( Nagasaki e Hiroshima), uma chamava-se Little Boy e a outra Fat Man. Destruiram tudo em seu caminhos, cenas de horrores, crianças, anciões, jovens, não perdoaram nada. Pessoas civis, pessoas humildes, sem defesa, sentindo na pele o queimar da radiação daqueles imensos cogumelos.

São momentos que não saem de minha cabeça. Faço origames de papel e também cultivo pequenas árvores (Bonzai) para passar meu tempo, onde já prevejo, que meu fim está se aproximando. A cada dia fico mais fraco, minhas pernas não tem mais forças, minhas costas me faz sentir até hoje os queimores daquela radiação. E meu fim está próximo!

E um belo dia de sol em uma feira, próximo ao mercado público vendendo meus cogumelos, conheci um jovem rapaz, muito curioso a meu respeito, analisando a minha idade e minha orígem japonesa, se interessa em fazer uma matéria a meu respeito, tipo uma biografia do Sr. Fuyuki, haja visto que é jornalista de uma grande empresa das comunicações de São Paulo. Passei a contar desde a minha infância até nos dias de hoje, más meia hora por dia, hora em minha casa, hora em uma praça. E assim foi seguindo os dias e até meses, para ele montar várias páginas que se tornaria livro para sua coleção.

Alguns meses depois ele me propôs uma sugestão: Viajar ao Japão com ele para lançar seu livro e visitar a orígem onde tudo começou para mim. No começo relutei, achei que voltar para meus fantasmas não seria boa ideia, más como eu já estava no fim da vida, por que não?

Dois meses depois, com seu livro pronto, ficando até que legal, me preparo para a viajem. Nervoso e inseguro com tudo que me estava acontecendo. Será que aguentarei a emoção?

Bom! No aeroporto caminho devagarinho com minhas limitações e com ele me amparando com suas mãos em minhas costas, começo a subir os degraus do avião. Um filme vem em minha cabeça, “Avião” bombas, cogumelo, radiação, pessoas morrendo, animais. Meu Deus! Será que vou aguentar em ir para lá? 

O nome dele até esqueci de comentar é Ricardo Tavares, 35 anos, loiro e bem afeiçoado, as meninas sempre o olham quando caminhamos, eu percebo-Risos. Já praticamente o adotei como um filho, ele gosta muito de mim. Claro! Esta tendo o retorno financeiro com as vendas do livro sobre minha biografia-Risos.

Sempre fui uma pessoa desconfiada, as vezes até demais. E isso algumas vezes me atrapalhou em minha vida. Pessoas foram se distanciado de mim devido minha truculência, nunca casei achando que as pretendentes não queriam ficar com uma pessoa que iria dar trabalho para ela no futuro. Percebam as minhas condições físicas!

O avião começa a decolar. O momento danado! Muita tremedeira ao levantar voo, mais passa em minutos até se estabilizar que nem um pássaro sem bater asas, se tornando o dono dos ares, que nem o B-29 em outrora no Japão.

Depois de algumas escalas, chegamos ao aeroporto do Japão, trinta horas de voo aproximadamente, é muito para um velho de 87 anos.

Quando desço e toco em seu solo, lágrimas caem de meus olhos, pegamos um táxi e vejo o quão lindo e resiliente o Japão se transformou. Prédios espelhados, luzes brilhantes, pessoas maravilhosas e felizes passando por nós. Minha terra, meu povo! 

Ricardo já com a reserva feita em um hotel pede ao motorista, ou melhor me pede para instruir o motorista, a localização do hotel. Chegando lá e já instalado em nosso quarto, olho pela janela e vejo um Japão magnifico, transformador, moderno e cheio de tecnologias. Em meu tempo no campo era só pás e enxadas.

Dois dias de descanso, propõe Ricardo. Aceito Claro! Já estava esgotado da viagem. Combinamos para visitar o local onde eu morava com meus pais. Já era minha intenção! Não viria para cá só para o lançamento de seu livro. 

A cada momento da viagem para o local de minha origem, meu coração palpita mais forte, Ricardo me pergunta se estou  bem! Posso ir tranquilo respondi! Chegando mais e mais perto vejo alguns destroços da guerra, e volta o filme em minha cabeça. Chegamos! Quase tudo abandonado. Minha casa! Ainda resiste alguns pedaços dela. Saí do Japão com 25 anos, tentar algo fora, onde fui parar no Brasil, terra acolhedora e simpática. Vou até aos túmulos de minha família, e aqui jaz todos que me restaram. Fico em posição de joelhos e faço minhas orações, cantando e orando alto. Ricardo com sua empatia toma a mesma atitude, em respeito a mim e aos mortos.

Meu coração começa a acelerar, não aguento a emoção, sinto um forte aperto em meu peito, minhas vista se escurecem e desmaio. Rapidamente Ricardo chama o motorista e nos deslocamos para o Hospital mais próximo. Sente-se culpado pela situação que criou, más jamais terá uma eventual culpa se algo acontecer comigo. Sempre quis ter uma oportunidade de voltar para minha terra e os meus. Segundo dia de internação, estou mal, coração fraco e sem forças para nada, sinto o fim se aproximando, de uma jornada levada pelos fantasmas da guerra.

O dia do lançamento de seu livro chega, e Ricardo não sai de perto de mim. Digo a ele, reunindo forças para falar: 

Vá meu filho! Não perdes, essa oportunidade, todos irão querer conhecer minha história de vida, faça mais isso por mim!

Há! Não esqueça! Se eu morrer me enterre junto aos meus. Ele com muita tristeza me abraça e chora em meu ombro, e sai para a preparação do evento, me dizendo que o lançamento vai ser em minha homenagem. Peço uma TV para a enfermeira, não irei perder o lançamento, afinal passamos muito trabalho para estarmos aqui.

O lançamento de seu livro se passa num salão enorme, muitas pessoas sentadas esperando o grande momento, focos de luzes e confetes são atiradas para cima. Ele chega no palco com um aparelho de interpretação de línguas em sua cabeça. Começa o show. Por vários momentos todos os aplaudem, não se cansa de falar meu nome. Mostra para a câmera várias vezes seu livro, parece querendo me entregar. No final faz uma homenagem aos mortos pela 2º Guerra Mundial, e mais particularmente para as duas cidades que foram quase extintas   do Japão. Homenagem essa, se ajoelhando e orando por todos, citando os nomes de minha família que jaz em descanso onde tudo começou para mim.

Não consigo conter minhas emoções, as enfermeiras queriam desligar o aparelho (TV), não as deixei. Más elas tinham razão, a emoção naquele momento não me era salutar.

Quase sem respirar, ainda consigo ver Ricardo em minha frente. Me fala que foi um sucesso, e que não irá sair mais de meu lado, até irmos embora. Más embora! Sim! Gostaria de ir embora, más para ao lado de meus pais e irmãos. Por favor Ricardo, não tenhas esperanças, aqui nasci, aqui sucumbirei.

Tenha muita sorte em seu livro, mostre ao mundo o que eles não devem fazer jamais. Repetirem seus atos insanos! 

Nós seres-humanos, temos que viver em harmonia, paz, e respeito. País por País, respeitarem sua soberania e aqueles que vivem nele. Mostre para o mundo que eu sou o exemplo da guerra. O mau que ela produz. As vidas que consomem. Mostre minhas fotos, o que a radiação pode fazer. Mostre ao mundo que temos que mudar e vivermos em constante respeito e paz.

Não chores meu filho! Todos nós temos que partir, e esta chegando a minha vez. Te considero o filho que não tive. E assuma tudo que deixei em São Paulo. E não esqueça me enterre junto aos meus pais.

Meu momento chegou! Meus olhos enfraquecem. Vou escutando meu coração perderem as batidas a cada segundo. Vejo uma luz em minha frente, minha família me estendendo os braços, meus irmãos correndo em minha direção. Que maravilhoso! Estou com eles agora. Dou o último suspiro e me vou. 




O Grande Cogumelo, por Mauricio de Oliveira Silva

"T exto referente ao dia em que os EUA com uma covardia imensa lançou duas bombas atômicas no Japão. Hoje dia 06-08-2022, 77 anos para ...