sexta-feira, 12 de novembro de 2021

CLARICE, mulher indomável e visceral [por Silvia Aparecida Pereira]

CLARICE, mulher indomável e visceral [por Silvia Aparecida Pereira]

 

“Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário.”

“E houve tudo o mais que não sei, o que é caldo de cultura de qualquer história”

Clarice Lispector

 

Chaya Pinkhasovna Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, na Ucrânia, e veio ao Brasil com seus pais judeus russos com poucos meses de vida para fugir à perseguição antissemita. É naturalizada brasileira.

 

Jornalista, tradutora, foi referência na Literatura, não somente brasileira como para a cultura Ocidental. Considerava-se pernambucana porque sua família mudou-se para o Recife quando ficou órfã.  Aos 12 anos de idade muda-se para o Rio de Janeiro, sendo frequentadora e assídua de biblioteca. Estudou Direito e foi redatora; foi casada com o Mauri Gurgel Valente. 

Além de romancista, também escritora de Literatura infantil. Muitos de seus textos, crônicas são direcionados para o público infanto-juvenil.

 

Alguns dos seus livros, como A Paixão Segundo G.H. (1964), Felicidade Clandestina (1971) e A Hora da Estrela (1977) são verdadeiros clássicos da Literatura brasileira. 

 

 

Falar de Clarice é sempre uma atividade eviterna, infindável e instigante. A cada leitura há uma nova interpretação, surgem novas reflexões e visão existencial e, apesar de muitas vezes parecerem factuais, a sensação de ações é deixada de lado para valorizar a interioridade, intimista, introspectiva e confessional. 

 

Falar em escolher a própria máscara em uma década tão densa e pontuada em encontros literários, persona – máscara que usamos todos os dias, fingindo quem somos, segundo a Psicologia Jungiana, que era pioneiro, enquanto sua temática foi popular e diretamente abstraída pelo público feminista, foi também criticada. 

 

Eternizada por suas obras de profundidade e conteúdo psicológicos das personagens, temas universais, personagens femininas, seus anseios e problemas internos. 

Usava de uma narrativa não-linear, temas universais para resgatar o social.

 

Poliglota, fluente em línguas latinas como o francês, italiano, mas o hebraico e o iídiche foram línguas nas quais fizera também traduções.  Sua mãe escrevia, mas nunca publicou. Soube por uma tia essa informação.

 

1943 é um ano significativo para a vida e a obra de Clarice. É naturalizada brasileira.

 Ela se forma em Direito, sendo a quarta colocada no vestibular, feito raro para uma mulher que se mostrava fora de seu tempo; casa-se com o então colega de classe, e publica sua primeira obra “Perto do coração selvagem”. 

Temas universais, personagens femininas e seus anseios e problemas internos. 

Narrativa não-linear, temas universais para resgatar o social.

 

Em 1944 deixa o Brasil, seguindo seu marido Diplomata. Separa-se em 1959, já com depressão e retorna ao Brasil acompanhada de seus dois filhos nascidos fora. Em 1960 escreve Laços de família.

Em 1966, fumante que era, dorme com um cigarro aceso, o que provocou um incêndio, queimando parte de seu corpo. 

 

Fernando Sabino, Lúcio Cardoso, Rubem Braga, dentre outros eram amigos de Clarice.

 

Em Felicidade Clandestina (1971), encontramos narrativas breves que se centram nas temáticas da infância, da adolescência e das relações familiares. 

 

Como já dissemos, narrativa não-linear, com temática do feminino na personagem, Macabéa, em A Hora da Estrela (1977), seu romance mais célebre, segue o destino solitário, a personagem forte, apesar de desencontrada socialmente, uma nordestina vivendo no Rio de Janeiro. Esta obra resgata com maestria o desassossego dessa nordestina – dentre tantas outras -  e suas dificuldades da migração e do preconceito. Aqui relato social e a deflagração de um Brasil tão plural,  diverso , onde a desagregação social é recorrente e transpassa os séculos, apesar do pouco avanço.

 

À TV Cultura em 1977, em entrevista da escritora para Júlio Lerner, pouco antes de morrer, disse não se intitular popular, já que fora, em alguns de seus textos, considerada “hermética” o que ela mesma entende ser verdade. Um exemplo disso seria a crônica A galinha e o ovo, texto incompreensível, pelas palavras de Clarice. 

 

Sua produção literária é extensa e diversa, entre romances, contos, crônicas e obras juvenis. Entre as suas traduções, destaca-se o romance de terror Entrevista com o Vampiro (1977), da norte-americana Anne Rice.


Em 2009, o historiador e crítico norte-americano Benjamin Moser descreveu a sua trajetória em Clarice, Uma Biografia.

Em “Clarice, uma vida que se conta” (GOTLIB, Nádia Battella, 1995, S.P., ed. Ática), a autora faz um entrelaçamento entre vida e obra, enxertos entre ficção e realidade, demonstrando que o leitor não é capaz de observar com clareza quando é a personagem e quando é autora que fala, relaciona-se, sofre, e pensa. Na maioria de suas personagens o pensamento é enfatizado como sendo quase um sonho onisciente, dessa mistura entre ser e personagem. Daí o encontro entre a narrativa não-linear e as evidências de uma escritora visceralmente introspectiva e genial.

Esta genialidade trouxe, de certo modo, algum desconforto, já que muitas vezes lhe era atribuído o adjetivo de “a feiticeira” ou “a bruxa Clarice” por  suas obras “suscitarem uma laboriosidade de envergadura mística”   ( https://homoliteratus.com/clarice-lispector-teria-sido-uma-bruxa ).

 Em sua última entrevista em fevereiro de 1977, mas levada ao ar somente depois de 10 meses e quando de sua morte, “Bom, agora eu morri. Mas vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto eu estou morta. Estou falando do meu túmulo” – fala um tanto quanto lúgubre e como quem parecia saber que morreria em breve, fato desmentido por sua leal amiga, Olga Borelli. Ela vitimou-se de um câncer que a levou a óbito em pouco tempo. Clarice quando dizia frases assim ainda não imaginava que morreria em tão tenra idade.

O artista não morre; vira estrela.

                  “A arte é a contemplação; é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que a natureza também” (Auguste Rodin)





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